quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Blogue = Arauto da palavra?

Quando nada mais havia do que a tradição oral, era esta que unia os povos e fazia a manutenção da sua identidade. Quando surgiu a escrita foi a revolução da expressão, o domínio do mundo por quem a dominava. Mas quando a difusão do conhecimento da escrita chega a todos (ou quase todos), e cada um pode ser o "arauto do evangelho da palavra", então, cada um de nós apropria-se da palavra e pode comunicar sem fronteiras.

Um pequeno Laptop e ligação à net faz muita diferença nas nossa vidas e fá-lo certamente na vida dos nossos alunos. Eles também têm uma palavra a dizer, ou mesmo muitas! As cartas não chegam, os jornais também não. Os espaços virtuais são a solução. Oferecem tudo que pode seduzir: novidade, actualização, variedade na forma de expressão, rapidez de (in)formação e partilha. É aqui que brota, quanto a mim, a fonte da utilidade dos blogues, na partilha. Seduzem por isto, pelo poder de comunicar, de partilhar.

Julgo que à partida o consenso é geral no que concerne alguns aspectos, senão vejamos:-Como é sabido, os jovens têm uma capacidade tremenda para aprenderem tudo o que está relacionado com informática e afins. Dominam com invejável destreza telemóveis, ipods, i-phones, playstations, etc., logo não é necessário fazer o pino para cativá-los. Eles já lá estão vivendo o "mundo de pernas para o ar", há muito tempo. Então entremos no jogo e joguemos!

Há vantagens inegáveis no uso de blogues para aprender uma língua. Por exemplo, escrever para um blogue, estimula a imaginação, a prática da escrita, da construção textual. Exige reflexão, organização e capacidade de expressão, que como tudo, quando treinado/ praticado, desenvolve-se! É um espaço privilegiado para pôr os jovens a escrever! Também aumenta a interacção sem olhar a status social, à riqueza, à aparência. Permite que crianças e jovens, muitas vezes tímidos, possam exprimir-se sem rodeios ou com menos fronteiras, pois a exposição física não existe.E permite comunicar fora da sala, num tempo estabelecido pelo próprio.

Por outro lado, a possibilidade de fazer aprendizagens de formas diferentes/ diversificadas pode e é, um forte estímulo que liberta os jovens das paredes da sala e da dimensão dos manuais. As próprias metodologias de trabalho e ensino nem sempre se adequam a todo o público. Nem todos fazem aquisições da mesma forma, nem todos têm a mesma capacidade de se exprimir e nem todos se entusiasmam pelo mesmo. O uso dos blogues pode fazer a diferença no âmbito das aprendizagens e do enriquecimento cultural.

Possibilita mais uma ferramenta de ajuda para motivar o desenvolvimento e consequentemente o consciente crescimento intelectual, emocional e expressivo. Cabe-nos ajudá-los a caminhar sem medo de falhar, pois quem tem medo não investe. É preciso ganhar experiência e com disse Oscar Wild:" Experience is the name everyone gives to their mistakes."

Depois há outros factores que tornam positiva e dinâmica a aprendizagem de línguas com recurso a blogues, que é: nunca se está sozinho! Há sempre alguém que lê, que comenta, que sugere.
O Professor pode ajudar a abrir caminhos, por outro lado o aluno pode ser o seu próprio "coach" e desbravar o caminho sozinho. São inúmeras as possibilidades.

Ao nível da faixa etária dos alunos que lecciono, a questão dos blogues tem outros contornos. Com dez e doze anos de idade não se tem a autonomia, nem as experiências ou a capacidade crítica e/ ou análise para construir com consciência autónoma um blogue quer no seu todo quer na sua essência. No entanto, é possível fazê-lo se abordarmos esse espaço, como um espaço de partilha, comum a todos. Os meus alunos podem produzir textos, mais ou menos longos, em Inglês, e partilhá-lo no blogue da turma, por exemplo. Já o fazem no Moddle, pelo que não são totalmente desprovidos de experiência em editar textos para um público disperso e possivelmente sem rosto.

Mas à parte todas as qualidades e potencialidades que os blogues podem e certamente trarão às crianças/jovens/ adolescentes, há um aspecto ( e aqui a opinião é muito pessoal), que é delegado para segundo plano ofuscado pelo "el dorado" das novas tecnológias, e que é: a falta de contacto humano. Os jovens têm poucas oportunidades para o diálogo frontal, aberto, e se, por um lado, através da escrita desenvolvem a "skill" "writing", e outras competências, por outro, o lado afectivo, a natureza de quem somos e que nos caracteriza dilui-se. Serão eles, em última análise, mais felizes e competentes por escreverem num blogue? Serão?

Há ainda outro aspecto que me deixa a pensar... se por um lado eu partilho o meu saber, emoções etc., por outro não sei para quem o faço e o que desperto nele. " It can be a tricky game".

O saldo final leva-me a crer que teremos gerações mais aptas e competentes na área do discurso e do saber, mas menos, no plano afectivo. Já o sinto nos meus "pequenos aprendizes".

4 comentários:

  1. Olá, Bushbabe,

    Também gostei do teu "post" e do modo como expões as tuas ideias sobre este assunto. Na realidade, a utilização dos blogues ou de qualquer outro recurso electrónico nas nossas aulas, só poderá enriquecer o processo de ensino-aprendizagem. E quando existe a preocupação de diversificar as formas de ensino (eu tive um formador, que nos dizia, que "o mesmo prato pode ser apresentado de várias maneiras"), eu também penso que os blogues podem ser um óptimo "condimento", que fará com que o prato (aprendizagem do inglês, neste caso) seja servido de forma diferente.
    Mas para concluír, não poderei deixar de agradecer o teu elogio quanto à organização do meu "post". É que os homens menos organizados são equivalentes às mulheres mais organizadas! Ah, ah, ah! E já agora, em relação às línguas, dir-te-ei que vocês, as mulheres, têm jeito para línguas, mas faz-vos confusão as línguas com uma morfologia complexa. Um casal alemão, meu amigo, que mora em Portugal há já vários anos, é um óptimo exemplo para o que eu acabei de dizer: ele já consegue fazer-se entender (mal), mas ela ainda só consegue dizer meia-dúzia de expressões em português! Então, o que dizes a isto? Ah, ah, ah!
    Não te esqueças deste velho ditado: " Foge de burro que faz “hin” e de mulher que sabe latim!”. Ah, ah, ah. O que dizes a este velho ditado? Aguardo pela resposta…
    Mais uma vez, parabéns pelo teu “post”.

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  2. Dear teresa,
    muito original a comparação do blog a um mensageiro, realmente o blog pode transmitir muito em termos de experiência de aprendizagem. Focaste um aspecto muito importante, a diversidade dos aprendentes, e aqui o blog poderá fazer a diferença. Gostei muito da fluidez do teu discurso. O último aspecto que referiste, a questão do contacto humano, acho deveras importante e deve ser uma preocupação inerente a todo o processo ensino-aprendizagem.
    Well done!
    Nice piece of work!

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  3. Teresa,
    Há tantos anos dou aulas a alunos do ensino secundário que, confesso, enquanto andei a pensar nas virtudes e defeitos dos blogues, estive sempre arredada da faixa etária que lecciona!
    Claro que não se pode esperar que crianças dessa idade tenham a (relativa) autonomia dos adolescentes "14 plus" e será uma tarefa bem mais árdua para o professor dinamizar/moderar um blogue...
    A sério: "mea culpa", não me lembrei dos alunos/professores do básico!
    No entanto, seja qual for a faixa etária em análise, não me parece que tenha razão quando diz que "os jovens têm poucas oportunidades para o diálogo frontal". Penso que têm bastantes mais hipóteses do que há alguns anos atrás. Simplesmente, por motivos que me escapam, pelo menos em parte, preferem dialogar de outros modos.
    Quanto à questão que põe relativamente aos nossos "interlocutores" nos blogues, a saber, "se por um lado eu partilho o meu saber, emoções etc., por outro não sei para quem o faço e o que desperto nele", tal também se aplica a uma comunicação cara-a-cara. Ou não?
    Um abraço

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  4. Com miúdos mais jovens há certamente outros aspectos a ter em conta, mas a estratégia que a Teresa sugere parece-me boa - um blog de turma permite um controlo maior por parte do professor e um ambiente mais seguro, a vários níveis, para as crianças nestas idades.

    Isso do partilhar sem se saber com quem e que emoções se desperta não é necessariamente mau. Como diz a Ana Magalhães, pode acontecer-nos em muitas situações do mundo físico: é, bem vistas as coisas, aquilo que os artistas e escritores sempre fizeram na maior parte das circunstâncias.

    Quando as comunicações mediadas por tecnologia substituem a socialização e a interacção com os outros no mundo físico, estamos face a um problema grave que tem que ser tratado. Mas o que acontece na maioria dos casos é que essa comunicação é uma extensão, um complemento, e não uma substituição. Alarga as possibilidades de comunicar com outros, alguns relações próximas, outros pessoas que só conhecemos online, não as reduz.

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