Quando nada mais havia do que a tradição oral, era esta que unia os povos e fazia a manutenção da sua identidade. Quando surgiu a escrita foi a revolução da expressão, o domínio do mundo por quem a dominava. Mas quando a difusão do conhecimento da escrita chega a todos (ou quase todos), e cada um pode ser o "arauto do evangelho da palavra", então, cada um de nós apropria-se da palavra e pode comunicar sem fronteiras.
Um pequeno Laptop e ligação à net faz muita diferença nas nossa vidas e fá-lo certamente na vida dos nossos alunos. Eles também têm uma palavra a dizer, ou mesmo muitas! As cartas não chegam, os jornais também não. Os espaços virtuais são a solução. Oferecem tudo que pode seduzir: novidade, actualização, variedade na forma de expressão, rapidez de (in)formação e partilha. É aqui que brota, quanto a mim, a fonte da utilidade dos blogues, na partilha. Seduzem por isto, pelo poder de comunicar, de partilhar.
Julgo que à partida o consenso é geral no que concerne alguns aspectos, senão vejamos:-Como é sabido, os jovens têm uma capacidade tremenda para aprenderem tudo o que está relacionado com informática e afins. Dominam com invejável destreza telemóveis, ipods, i-phones, playstations, etc., logo não é necessário fazer o pino para cativá-los. Eles já lá estão vivendo o "mundo de pernas para o ar", há muito tempo. Então entremos no jogo e joguemos!
Há vantagens inegáveis no uso de blogues para aprender uma língua. Por exemplo, escrever para um blogue, estimula a imaginação, a prática da escrita, da construção textual. Exige reflexão, organização e capacidade de expressão, que como tudo, quando treinado/ praticado, desenvolve-se! É um espaço privilegiado para pôr os jovens a escrever! Também aumenta a interacção sem olhar a status social, à riqueza, à aparência. Permite que crianças e jovens, muitas vezes tímidos, possam exprimir-se sem rodeios ou com menos fronteiras, pois a exposição física não existe.E permite comunicar fora da sala, num tempo estabelecido pelo próprio.
Por outro lado, a possibilidade de fazer aprendizagens de formas diferentes/ diversificadas pode e é, um forte estímulo que liberta os jovens das paredes da sala e da dimensão dos manuais. As próprias metodologias de trabalho e ensino nem sempre se adequam a todo o público. Nem todos fazem aquisições da mesma forma, nem todos têm a mesma capacidade de se exprimir e nem todos se entusiasmam pelo mesmo. O uso dos blogues pode fazer a diferença no âmbito das aprendizagens e do enriquecimento cultural.
Possibilita mais uma ferramenta de ajuda para motivar o desenvolvimento e consequentemente o consciente crescimento intelectual, emocional e expressivo. Cabe-nos ajudá-los a caminhar sem medo de falhar, pois quem tem medo não investe. É preciso ganhar experiência e com disse Oscar Wild:" Experience is the name everyone gives to their mistakes."
Depois há outros factores que tornam positiva e dinâmica a aprendizagem de línguas com recurso a blogues, que é: nunca se está sozinho! Há sempre alguém que lê, que comenta, que sugere.
O Professor pode ajudar a abrir caminhos, por outro lado o aluno pode ser o seu próprio "coach" e desbravar o caminho sozinho. São inúmeras as possibilidades.
Ao nível da faixa etária dos alunos que lecciono, a questão dos blogues tem outros contornos. Com dez e doze anos de idade não se tem a autonomia, nem as experiências ou a capacidade crítica e/ ou análise para construir com consciência autónoma um blogue quer no seu todo quer na sua essência. No entanto, é possível fazê-lo se abordarmos esse espaço, como um espaço de partilha, comum a todos. Os meus alunos podem produzir textos, mais ou menos longos, em Inglês, e partilhá-lo no blogue da turma, por exemplo. Já o fazem no Moddle, pelo que não são totalmente desprovidos de experiência em editar textos para um público disperso e possivelmente sem rosto.
Mas à parte todas as qualidades e potencialidades que os blogues podem e certamente trarão às crianças/jovens/ adolescentes, há um aspecto ( e aqui a opinião é muito pessoal), que é delegado para segundo plano ofuscado pelo "el dorado" das novas tecnológias, e que é: a falta de contacto humano. Os jovens têm poucas oportunidades para o diálogo frontal, aberto, e se, por um lado, através da escrita desenvolvem a "skill" "writing", e outras competências, por outro, o lado afectivo, a natureza de quem somos e que nos caracteriza dilui-se. Serão eles, em última análise, mais felizes e
competentes por escreverem num blogue? Serão?
Há ainda outro aspecto que me deixa a pensar... se por um lado eu partilho o meu saber, emoções etc., por outro não sei para quem o faço e o que desperto nele. " It can be a tricky game".
O saldo final leva-me a crer que teremos gerações mais aptas e competentes na área do discurso e do saber, mas menos, no plano afectivo. Já o sinto nos meus "pequenos aprendizes".